LILIAN AQUINO
Autora dos livros de poemas Daqui (Patuá, 2017, Bolsa ProAC de criação literária) e Pequenos afazeres domésticos (Patuá, 2011), Lilian Aquino nasceu em 15 de novembro de 1979 em São Paulo. Mora nessa cidade desde então, mas sempre com um pé em Minas, onde vive seu avô. Sua casa é o lugar que mais gosta no mundo: tem suculentas no parapeito da janela, mosaicos coloridos na parede e um gato. Já publicou poemas nas revistas Inimigo Rumor, Mininas, Metamorfose, Zunái, Celuzlose e no jornal de poesia O Casulo. Fez parte do coletivo de poetas e amigos queridos, a Vacamarela, que publicou sua Antologia em 2007.
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Conheça 5 poemas do livro Daqui, de Lilian Aquino:
Nesses tempos
Meu bem, os tempos são outros nossas roupas rotas estão penduradas na cadeira O amor passeia ombro a ombro trança artesanalmente uma palavra depois outra É novo o tempo apague, esqueço, as rasuras bem ali aos meus pés É hoje: abandone-se No caminho as horas ultrapassam o tempo o momento certo do afeto.
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Catar conchinha
Fecho na palma da mão esta nota Não uso força, não a aperto contra os dedos
Faço uma concha com a mão levo-a ao ouvido posso ouvir a vibração ao toque da pele
Uma nota que fantasio ser apenas minha uma espécie música particular
Na palma da minha mão junto ao meu ouvido minha nota se esparrama entre os dedos
(como se eu ouvisse o mar como se minha mão fechada contivesse grãos de areia)
Uma nota só como um sol, um dó, eu te abro a mão
prefiro que navegue.
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Indigesto
Como um comprimido engulo este dia. De oito em oito horas me lembro não há remédio a não ser comer esta demora que a vida leva pra curar uma dor Meus dentes estão moles como balas de goma impossível mastigar estes segundos
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Receita para ser só
uma pessoa sozinha são claras em neve batidas à mão onde se lê: reserve separado da gema puro colesterol é num prato leve um ser aerado que pode ser usado sem distinção
essa nuvem de ovo no entanto rende uma porção a menos e deixa tudo ao redor fofo
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Fuga n. 5
aliás, você só se deu conta na penúltima noite por causa do barulho que fiz de tudo pra não te acordar quando fui dormir também
pedi com vela e tudo inventando um jeito de fé com mãos cerradas, um mês antes, e então os dias que você morou ali pareciam até o pedido atendido
vá na frente eu te falei estou sem sono sem órgãos
foi quando mais tarde, no quarto dia notei meu corpo como o lugar do grito um ruído oco até amanhecer
então saí e te tranquei do lado de dentro.
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Conheça 3 poemas do livro Pequenos afazeres domésticos, de Lilian Aquino:
Urbanismo
Lá onde morava não tinha margem nem esquinas: era inteiro.
E se à noite pensava via estradas, cruzamentos canteiros e flutuava sobre a cidade aberta traçando com giz (um a um) seus limites
delineava zonas de silêncio.
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Casa alugada
Estes azulejos lembram cascos de tartarugas Sempre olho, passo horas procurando figuras refugiadas no porão
Moro aqui já sem ouvir os sinos e desde que cheguei foi preciso me habituar com a mobília incrustada pelos cômodos
As arcas nos corredores perpétuas e velhas e lentas: não abrem
Mas tomo café na cozinha pensando nos cascos, imóveis.
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Ritual
para Fabiana Melchiori
No mesmo dia em que o filho deixou a casa (se afastando de costas para olhá-la nos olhos) ela resolveu plantar um ipê
na sala
Num ato solene quebrou o chão e revirou o solo e chafurdou-se toda contente
E do desfeito pelo rebento ficou aquela cicatriz na barriga , a estranheza do ser livre e o olhar aquela árvore ainda sem flores e se perguntar:
roxo ou amarelo?
Livro: Daqui
Autor: Lilian Aquino
Gênero: Poesia
Número de Páginas: 96
Formato: 13x19
Preço: R$ 38,00 + frete
L ivro: Pequenos Afazeres Domésticos
Autor: Lilian Aquino
Gênero: Poesia
ISBN: 978-85-64308-04-6
Número de Páginas: 111
Formato: 16x23
Preço: R$ 35,00 + frete
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