JULIANA MAFFEIS
Juliana Maffeis é escritora e arte-educadora. Mora em Porto Alegre, RS. É graduada em Letras pela PUCRS e possui especialização em Formação do Leitor pela UERGS. Trabalha com educação popular ministrando oficinas de Poesia, Artes Visuais, Leitura e Ilustração.
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Conheça 5 poemas do livro Solitária companhia de teatro, de Juliana Maffeis:
acidental
risco ocidental ornamentado pelo caos arranco um dente em frente ao espelho percebo o sangue escorrer: me observo carranca duplamente estática até que a boca murche de tédio
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a festa do vizinho
o carro de mensagem grita amor bem alto mosquitos fazem a festa na perna dos convidados meus pais trocam risadas quinze anos após o divórcio brinda-se ao bebê que não veio de boca fechada derrubo o copo ninguém pode me ver aqui espio a vida por trás do muro nada que eu já não tenha visto deu vontade de ver de novo toca aquele hit do verão passado os vizinhos ensaiam passos ninguém me viu ainda sigo olhando até cansar tá demorando pra cansar dançam e cantam aos berros continuo atrás do muro bom lugar pra passar o sábado
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como nenhuma
a mesma disputa o velho terreno a massa cinzenta versus o músculo vermelho a mesma contradição: a mesma fria de sempre metade uma coisa só e a outra metade milhares de metadinhas
a velha agonia a mesma impaciência metade dor nas costas metade milhares de vontadinhas a velha cinzenta e o velho rubro musculoso: um casal como nenhum outro uma dupla como nenhuma outra gostaria de ser
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cinema
numa sala de cinema vazia choro nua em frente a imensa tela sem conter-me despi-me parecia uma despedida chorei o filme inteiro amor que não dá conta de amar o lugar vazio ao lado à frente, atrás dentro que lado é este? insistente questão persiste após os créditos pessoas entram e limpam eu ali tão suja não me enxergam levam minhas roupas permaneço estática aos prantos a interrogação se afirma finco os dois pés no carpete passo a mão pelos pelos pelos cabelos pelos seios na sala que nada apresenta sou persona de mim mesma me represento apreensiva inofensiva aguada maquiagem borrada imersa em minha poltrona molhada de mágoa decupada e sem roteiro
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solitária companhia de teatro
operação de escuta remanejo na conduta discorda mas não disputa palavra bruta vadia covarde de boca em boca se perde de bloco em bloco se prende
rumor de eco tremor na voz concede a nós um bafo seco clamando juras honestas escorrem por qualquer fresta quando o assunto é agora fim de festa
via de sentido único dada como correta via de sentido trágico seguida em linha reta morte sorte corte essa parte entregue repertório à toa entoa repente de óbito ruído híbrido ressoa fala de neurótico
meu deus do céu deus do céu meu quando meu pulso vai tocar no radial? quando meu passo vai assoviar no pantanal? quando minha cor vai tingir por cima do cal?
firmamento de mentiras corrosivas: a hora histórica campo pouco amplo de ideias fixas: a hora histórica encruzilhada de vidas obstruídas: a hora histórica
ao tratar contrato destrato contexto novela escrita em uma noite em claro não é mais pretexto teu sonho e tua ilusão a preço de banana alienação ou perseguição: doenças contemporâneas tão simples tão bacana tão sacana delírio e paranoia a toda crença engana antagonista projetado em marginal anti-herói protagonista escarrado na pele do pleiboi conte sobre sua lei, meu rei
solitária companhia de teatro veste a plateia máscara de otário recusa o pensamento em outro plano segue circular o grito insano, tirano pondo panos quentes em sangue corrente espaço urbano hoje zona de conflito recorta o horizonte e cola por cima um grito
Livro: Solitária companhia de teatro
Autor: Juliana Maffeis
Gênero: Poesia
Número de Páginas: 100
Formato: 14x21
Preço: R$ 38,00 + frete
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