NORMA DE SOUZA LOPES
Autora dos livros de poemas De mim ninguém sai com fome (Patuá, 2017) e Borda (Patuá, 2014) Norma de Souza Lopes (Belo Horizonte/MG, 1971) é Poeta e Professora. "Escrever é essa costura cotidiana quando posso tecer e juntar as pontas soltas da memória." Escreve no blogue Norma Din:
http://normadaeducacao.blogspot.com.br/
Contatos:

Conheça 5 poemas do livro De mim ninguém sai com fome, de Norma de Souza Lopes:
fronteira
sei que cansa esse riso esse choro, baby essa loucura essa raiva essa pose de estátua a mim também me constrange é que sou feita de uma matéria que não se estabiliza namoro de longe bêbados loucos do passado e do presente minha culpa atávica me deu essa vida medíocre admirar galinhas no terreiro e bater ponto todo dia sou viciada em fronteiras, baby mas te garanto tenho uma dezena de assassinatos arquitetados um corpo pronto para o sexo selvagem e um fígado preparado para falir qualquer dia desses atravesso contigo a borda e dinamito pontes atrás de mim
***
as medíocres tarefas do sentimento
um calendário do ano passado mostrando o dia errado: eu poderia chorar sobre ele
tinha tanta pena de leõezinhos famintos que seria capaz de me atirar à savana para dar-lhes de comer
quando o amor era irreparável usava-o quebrado mesmo
não coma o coração me disseram o que equivale a falar que eu deveria sentir menos envelhecer e sentir menos
***
notícias do front
foste tu a trazer o fumo matutino do outono? a instalar os detonadores de bombas? o vento que movia as birutas nos aeroportos?
acreditei na suspensão da melancolia mas cedo percebo como é desonesto desatar as asas sem aparar o chão
condenados e patéticos são os corpos fora do estatuto do desejo amam-se de dois em dois e odeiam a cem
por aqui continua tudo sob controle do medo
***
o último
nunca fui a solteirona megera nunca fui a prostituta arrependida nunca fui a heroína das histórias de amor nunca fui a menina pura que se casa ao final da novela nunca fui a companheira resignada nunca fui a esposa adúltera
quem plantou em mim essas mitologias românticas? nasceram e vivem comigo a solidão e a morte não há o que temer
ontem escrevi o último poema de amor
***
a frota do novo homem
vejam, irmãs, quem aporta agora no cais aspirem para dentro de seus pulmões as embarcações naufragadas em sítios fora do mapa
irmãs, sei que andamos cansadas de ser árvores e galhos para esses filhos mamíferos cinquentenários nossos joelhos dormentes de tanto levar ao colo os amantes
mas alegrem-se, ó minhas quatro amadas irmãs eis que ele chega, prenhe, mas ainda não nascido traz entre os dedos vínculo, intuição e benevolência aquele a quem chamamos homem, o signo de uma raça
é tempo de lançar nossos olhos ao norte e sorrir para a grande alegria que nos espera um tempo em que as mãos nos representarão e mãos, irmãs, não possuem sexo
***
querido deus
eu queria voltar no tempo em que meu pai e minha mãe eram pequeninos para brincar com eles de família
mas preciso de proteção nessa empreitada temo que vaze o dreno da dor que levo no lado esquerdo do corpo
temo que se derrame e azede a brincadeira toda algo que poderia ser fatal para a minha existência
Conheça 5 poemas do livro Borda, de Norma de Souza Lopes:
o gato
no descampado dominado pelo mato molhado de orvalho um gato curva como mão a pata
salta em arco sobre a asa de mariposa reflexo do sol
mordisca uma flor de serralha
***
outra estação
no guichê em letras garrafais lê-se ESTAÇÃO DA POESIA PÓS-MODERNA a moça atrás do vidro anuncia está atrasada, senhora sem bilhete, não pode embarcar perco o trem
parada na plataforma o corpo trepida o som das rodas atritadas nos trilhos afasta-se ecoa entre o olho e o artelho signos tremem
em casa aves noturnas palavras não me deixam dormir na sala um tear fios de insônia bilros para bordar nova condução outra estação para lugar nenhum
***
decalque do invisível
por vinte minutos inteiros explorou o quadrado de papel entregue pela mãos do menino de recados possível mensagem cifrada na letra riscada no branco
e se houvesse um “eu te amo” enigmático por trás do “pode ir.” da caligrafia crispada à caneta preta?
***
mamãe trazia lixo na bolsa
às quatro e meia ela chegava era gari se a casa não estivesse limpa apanhávamos
trazia lixo na bolsa comida revista livro se achasse cigarros fumava se achasse terço rezava
mamãe foi a primeira ambientalista que conheci
***
voo
uma vez vi um corpo nu descrever uma descida vertiginosa onze andares de um prédio residencial
era um corpo ou um homem?
no dia seguinte pedaços de ossos contavam sonhos irrealizados nos beirais do prédio da rua Timbiras
espantou-me a pressa com a qual a chuva lavou o sangue no asfalto

Livro: Borda
Autor: Norma de Souza Lopes
Gênero: Poesia
Número de Páginas: 180
Formato: 14x21
Preço: R$ 38,00 + frete (Livro em pré-venda, entrega após o lançamento. Amigos e leitores de todo o país que realizarem a compra antes do lançamento receberão o exemplar autografado após o evento. Imperdível!)
Livro: Borda
Autor: Norma de Souza Lopes
Gênero: Poesia
Número de Páginas: 100
Formato: 14x21
Preço: R$ 32,00 + frete
|